Jantar ou não jantar?

As pessoas que saem à noite, sabem que existem dois tipos de noite: a que começa com um jantar e a que começa sem jantar. São duas coisas completamente diferentes e este facto - a presença ou a falta desta refeição - condiciona tudo o resto. Até por uma questão de estratégia e planeamento, chamemos-lhe assim. Quem vai a um jantar, sabe que à partida, a probabilidade de se desgraçar naquela noite é muito superior. E quem não o faz, é - salvo raríssimas excepções - por medo disto. É o que vos digo. Um jantar é um perigo! Eu tenho mais "medo" de ir a um jantar destes do que atravessar o Irão a pé. Aliás, não é por acaso que quando encontramos alguém à noite que nos pareça demasiado animado à pergunta: "Vens de onde?", é certíssimo que nos responderá: "Sabes como é, vim de um jantar de curso!". E posto isto, não há nada a fazer. Encolhem-se os ombros e dá-se um abraço de compreensão, como quem diz "Hoje vais acabar mal". E, na maioria das vezes, acaba mesmo!
E do mesmo modo que digo isto, também afirmo que uma noite histórica, não acaba sem um pequeno-almoço. Aliás, se dúvidas houvesse sobre isto - que não há - as refeições mais importantes para qualquer pessoa que perceba de nutrição nocturna são justamente o jantar e o pequeno-almoço. As pessoas que saem à noite ignoram por completo o almoço. E porquê? Porque estão a dormir, evidentemente. E, tal como eu, saberão que não há nada melhor do que comer depois de um banho na praia ou tomar o pequeno-almoço ainda com sabor a copos. Se querem saber, gosto tanto dos dois, que já não é a primeira vez que acordo na praia depois de uma atribulada noite. Poupa-se em muita coisa, ganha-se bronze e podemos tomar o pequeno-almoço depois de ir tomar um banho gelado, todo pelado, na praia. Isto sim, é perfeito!
Dedico esta crónica ao Curso de Artes Plásticas e Multimédia, da ESEBeja, obrigado padrinhos e madrinhas, obrigado colegas!

Crónica - Paixão Anunciada

Ela: A vida pregou-nos uma grande partida.
Ele. A vida pregou-nos uma grande partida.
(Tudo começou há muito tempo. Na verdade, que importa?
Podia ter sido noutra data. Mas é isso que faz parte do mistério do encontro.)

Porquê escrever, quando tudo o que está em causa no amor é partilhado com uma outra pessoa? São duas histórias diferentes que se transformam numa só. O problema está nas perguntas. São difíceis de responder. Mas acontece(m). E quando atingem proporções desmesuradas podem alterar as vi(d)as. Para sempre.
Leva-se tempo - às vezes uma eternidade, o que certa maneira aconteceu - a sentir, o que se pode fazer para dar uma parte da vida (senão toda?) ao outro. Neste caso, foi quase tudo. É então que surge a paixão anunciada.
De repente. Um olhar. O mesmo olhar. Um aparição. A mesma aparição. Um mesmo desejo que ainda não se sabe aonde vai dar. A terra treme debaixo do pés. Fica-se aturdido. O coração começa a bater, sem limites.
Esquece-se tudo. Primeiro encontro. Não se olha para trás, é como se nada existisse; tudo é iluminado pela arte dos cometas. Um primeiro beijo, desajeitado. O lábios habituam-se, depois tudo é sentido. Os dados à muito que estavam lançados!
As recordações? Essas permanecem, para sempre, diferentes. Tudo podia ter acontecido num primeiro dia mas, desde um primeiro olhar, há um tempo para tudo. A paixão, como a raiva, que muito tempo depois, também existiu, faz parte, como em tudo na vida.
Lembram-se, lembram-se, ambos, muitas vezes, por um pequeno toque entre os dedos enquanto se passa um copo, num bar iluminado por um nada.
Os dedos podiam entrelaçar-se nessa noite; os lábios, talvez, podiam tocar-se - nessa noite do primeiro dia de uma vida outra.
Depois, já não se olha para trás. A paixão é tão intensa que há logo um início, como se adultos se tratassem. Cegos, não viam ninguém à sua volta.
Cresce à medida que o tempo passa e o presente não existe. Mas afinal, existe.
Ficaram, muitas vezes, de mãos vazias. Tudo tentaram - ele, aliás - para que aquele dia longínquo de outonal se mantivesse até hoje.
Nem um nem outro acreditam na história da química nem das almas gémeas, mas sabem uma coisa, e os dois confessaram:
Ela: Fizeste-me sentir mulher.
Ele: Fizeste-me sentir mais que um homem.
Então fazem o normal. Não amam, vivem. Não querem, sentem. Não namoram, "curtem".

Altruísmo vs Egoísmo

Altruísmo versus Egoísmo? Daniel Filipe?!!!

Fizeste bem em chamar-me. Sem mim, nunca conseguirias escrever este texto. No fim do primeiro parágrafo, já te terias desculpado duas ou três vezes. Começavas a desculpar-te por existir, depois desculpavas-te por te estares a desculpar e etc. vezes mil. Entravas numa espiral patética sem saída e, tenho a certeza, no final do texto concluirias que todo o altruísmo é, no fundo, uma forma de egoísmo.
Que lugar-comum insuportável.
Ainda bem que me chamas-te. Fizeste muito bem. Sozinho, irias esbarrar nessa redoma de cinismo que construíram à tua volta e que impede até de ser feliz, de sorrir sem medo dos outros. Se te quiseres desculpar por alguma coisa, desculpa-te por teres caído nessa armadilha tosca, armada diante de todos os que acreditam que o fim da adolescência é o início da falta de escrúpulos. São tão ridículos a seguirem todos os preceitos da máquina. A darem o nó da gravata porque sim, a levarem os miúdos ao infantário porque sim, a chegarem a horas à reunião porque sim, a saírem com um casal amigo porque sim, a comerem gajas (traindo as mulheres) porque sim, a irem de férias para a fotografia do folheto da agência de viagens porque sim. E, também porque sim, porque claro, porque obviamente, todo o altruísmo é, no fundo, e não versus, uma forma de egoísmo. Que lógica admirável. Com essa justificação filosófica, aproveitas para ser egoísta até para um pau de fósforo. No autocarro, se entrar uma velha, baixa os olhos sobre o telemóvel, porque pode querer que te levantes. Na estrada, se te cruzares com um carro a fazer pisca-pisca, acelera, pode querer meter-se à tua frente. Na fila do refeitório, se houver uma maçã maior e de boa cor, leva-a, porque pode ser apanhada pelo imbecil que está atrás de ti.
E quanto mais conheces as pessoas, mais gostas de animais, não é? Principalmente dos cães, que te fazem as vontades, que vêm de cabeça baixa receber o que te dignares a dar.
Porque a ti ninguém te passa a perna. Porque tu não és parvo. Porque ninguém faz pouco de ti.
A vida é dura. O mundo é duro. Repete para ti próprio que o mundo é duro. Assim, poderás convencer-te com maior facilidade de que tudo o que fazes para o endurecer é justificado. Tu vais chegar longe, não sabes bem onde, só sabes que é longe. Se tiveres de passar por cima de dois ou três, azar, é porque eram fracos e não aguentaram. É porque mereceram. A vida é mesmo assim. O mundo é mesmo assim. Até a natureza é assim. O tigre come o veado, o veado come a erva. E, além disso, o egoísmo é, no fundo uma forma de altruísmo.
És tão idiota, estúpido! O imbecil que está atrás de ti no refeitório és tu próprio. Se, no fundo, o altruísmo é egoísmo, repara que, no fundo, este tempo presente é um instante que os futuros não poderão garantir que foi verdadeiro; no fundo, tudo aquilo que pensas não existe sem ti, não existe para lá de ti, e tu próprio, no fundo, não és mais do que pó e, muito em breve, mais depressa do que julgas, voltarás a ser pó. Apenas pó, idiota de merda!