Crónica - Paixão Anunciada

Ela: A vida pregou-nos uma grande partida.
Ele. A vida pregou-nos uma grande partida.
(Tudo começou há muito tempo. Na verdade, que importa?
Podia ter sido noutra data. Mas é isso que faz parte do mistério do encontro.)

Porquê escrever, quando tudo o que está em causa no amor é partilhado com uma outra pessoa? São duas histórias diferentes que se transformam numa só. O problema está nas perguntas. São difíceis de responder. Mas acontece(m). E quando atingem proporções desmesuradas podem alterar as vi(d)as. Para sempre.
Leva-se tempo - às vezes uma eternidade, o que certa maneira aconteceu - a sentir, o que se pode fazer para dar uma parte da vida (senão toda?) ao outro. Neste caso, foi quase tudo. É então que surge a paixão anunciada.
De repente. Um olhar. O mesmo olhar. Um aparição. A mesma aparição. Um mesmo desejo que ainda não se sabe aonde vai dar. A terra treme debaixo do pés. Fica-se aturdido. O coração começa a bater, sem limites.
Esquece-se tudo. Primeiro encontro. Não se olha para trás, é como se nada existisse; tudo é iluminado pela arte dos cometas. Um primeiro beijo, desajeitado. O lábios habituam-se, depois tudo é sentido. Os dados à muito que estavam lançados!
As recordações? Essas permanecem, para sempre, diferentes. Tudo podia ter acontecido num primeiro dia mas, desde um primeiro olhar, há um tempo para tudo. A paixão, como a raiva, que muito tempo depois, também existiu, faz parte, como em tudo na vida.
Lembram-se, lembram-se, ambos, muitas vezes, por um pequeno toque entre os dedos enquanto se passa um copo, num bar iluminado por um nada.
Os dedos podiam entrelaçar-se nessa noite; os lábios, talvez, podiam tocar-se - nessa noite do primeiro dia de uma vida outra.
Depois, já não se olha para trás. A paixão é tão intensa que há logo um início, como se adultos se tratassem. Cegos, não viam ninguém à sua volta.
Cresce à medida que o tempo passa e o presente não existe. Mas afinal, existe.
Ficaram, muitas vezes, de mãos vazias. Tudo tentaram - ele, aliás - para que aquele dia longínquo de outonal se mantivesse até hoje.
Nem um nem outro acreditam na história da química nem das almas gémeas, mas sabem uma coisa, e os dois confessaram:
Ela: Fizeste-me sentir mulher.
Ele: Fizeste-me sentir mais que um homem.
Então fazem o normal. Não amam, vivem. Não querem, sentem. Não namoram, "curtem".

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